Controlados por fundos de investimentos globais e bancos de investimentos, os planos de saúde privados estão se apropriando cada vez mais do orçamento e da estrutura públicos da saúde. Para o vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), José Antônio de Freitas Sestelo, o setor privado consolidou um padrão de articulação público-privado concentrador de recursos. “Nos últimos 30 anos, os esquemas privativos de intermediação de assistência cresceram a ponto de as empresas controlarem discricionariamente um volume anual de recursos superior ao que é empenhado pela União na rede pública”, afirma nesta entrevista ao Extra Classe. Integrante do Grupo de Pesquisa e Documentação sobre o Empresariamento da Saúde Henry Jouval Jr. (GPDES) ligado ao Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Sestelo afirma que os empresários não querem o fim do sistema público, mas a sua transformação em um “grande resseguro”. Em síntese, o país caminha para um apagão da saúde, adverte o pesquisador: “num futuro próximo a classe média não terá nem plano de saúde e nem SUS, porque os planos melhores serão muito caros e os baratos serão inúteis. E o SUS está ameaçado de desmonte com essa política irresponsável de congelamento de despesas públicas com seguridade social”.